A procriação nos zoos, de fato de que estamos falando???

Devido a mecanismos e características evolutivas, nosso comportamento humano tem uma tendência natural e imediata ao ver filhotes de animais: se encantar pela delicadeza e apelo infantil, seja qual for a espécie. É o processo chamado neotenia.

Entretanto, nossa primeira impressão precisa sempre ser mais crítica e realista, em especial, nos dias atuais. Ser mais racional e realista particularmente com relação ao ambiente que estes animais estão, que pode ser cerceador de seu comportamento natural.

Recentemente o Zoológico de São Paulo, instituição que a décadas vem expondo animais em cativeiro permanente, em especial as espécies exóticas, divulgou nas redes sociais que dois filhotes de leão africano nasceram e em breve estariam disponíveis para visitação no zoo. Chama muito a atenção que a “propaganda” publicada pelo Jornal Estadão deixa claro que “a interação presencial em breve estará disponível, nos próximos meses”, ao mesmo tempo que mostra um ambiente completamente árido, pobre em recursos, concretado por onde circulam os filhotes e a mãe. Provavelmente área extra ou maternidade para esses indivíduos. Nos comentários na divulgação, dezenas de pessoas conscientes do que de fato será o futuro desses animais, faz críticas e condena a reprodução em cativeiro. Muitos alegam também que se ali não estivessem seriam caçados em outros países para serem exibidos como troféus por pessoas de conceitos e valores equivocados para o nosso tempo. Alguns alegam que os animais fazem parte de programas de conservação.(?)

De outra forma, está claro o apelo comercial da matéria para que mais e mais pessoas vão até o zoo para, por instantes, admirarem os filhotes e depois seguirem para outros recintos para mais instantes de contemplação (na melhor das hipóteses), de ruídos, gargalhadas, conversas em alto som que incomodam aos animais, até se afastem para outro recinto, gaiola, enfim…. Enquanto isso, esses animais continuarão por toda vida confinados, restritos a um ambiente “adaptado” que nos induz pensar: ” que lindo ele estar aí. Ele está bem e sendo cuidado!”. Entretanto, para cada animal ali confinado de forma permanente, existe a privação de um ambiente desafiador, um ambiente que possibilite escolhas, interações a expressão de seus múltiplos comportamentos  naturais e que são centrais para de fato proporcionar seu bem estar físico, comportamental e mental.

Cabe ainda questionar se espécies consideradas não ameaçadas por parâmetros mundiais devem ser alvo dos chamados programas de conservação e, portanto, de reprodução em cativeiro. Nesse sentido, questionamos qual seria a finalidade desses filhotes de nascimento recente, oriundos de um cruzamento no Brasil, local onde essa espécie não existe! De todo modo, são novos indivíduos que já nascem condenados ao cativeiro permanente. Questionamentos mais profundos são também pertinentes: será que os animais que nascem em cativeiro serão em algum momento comercializados por outros zoos, tratados como mercadoria? Qual de fato é a finalidade dos programas de educação ambiental feitos por zoológicos? Será que é mostrar como os animais sofrem em cativeiro? Que nós, em breve, devido à destruição dos habitats naturais pelo mundo, teremos que só encontrar animais silvestres apenas numa vitrine? E vamos continuar dizendo que fazemos educação ambiental?

Por fim, é preciso enfatizar que esses locais de exposição de animais precisam ser transformados, mas não como forma de lucro aos empresários como temos visto nos últimos anos com corporações aparecendo com a novidade dos “bio parques”. Nas inúmeras audiências públicas onde tais corporações já levaram seus projetos de privatização aos estados e municípios pelo país fica claro que só buscam ampliar áreas de interesse humano para convívio e lazer, alimentação e descanso, mantendo para os animais os mesmos recintos restritos “maquiados” de ambiente natural. Milhões de animais vítimas da caça, atropelamento, e traumas invariavelmente causados pelos humanos são mantidos em centros ligados ao governo federal ou estados e mantidos em condições precárias por falta de um programa que, de fato, preveja e realize cuidados, atenção e destino digno aos que não poderão voltar a natureza! É urgente criarmos um programa para os animais silvestres nativos vítimas da irresponsabilidade humana, assim como uma política pública que cuide dos animais exóticos que já estão aqui e não permitir que  outros novos pretensamente justificados côo integrantes de políticas de “conservação questionáveis”  aqui adentrem.

É urgente que nossos animais silvestres sejam tratados com dignidade e respeito quando a única saída for de fato o cativeiro. É urgente que cada um de nós olhemos e cuidemos com dignidade e respeito cada vida animal.

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