Você já refletiu sobre por que os animais chamados de Sinantrópicos se adaptam tão bem às cidades e outras habitações humanas? Um dos motivos é o fato de terem necessidades, interesses e preferências muito parecidas com as nossas. E é claro que isso vale tanto para as coisas que nos agradam quanto para as que nos prejudicam.
Por mais óbvio que isso pareça, costuma ser completamente ignorado pelo modo como a sociedade lida com os sinantrópicos. Quanto mais estigmatizados, mais vulneráveis ficam os animais, como ratos, morcegos e pombos. Em qualquer lojinha de variedades você pode encontrar ratoeiras, colas e pastas que provocam mortes cruentas. Plataformas de compartilhamento online estão cheias de vídeos ensinando a construir armadilhas para capturar e matar roedores em massa, das piores formas imagináveis. Não é raro lermos “não alimente os animais” ao lado de indivíduos literalmente morrendo de fome. Para os sinantrópicos que têm o azar de serem vistos como pragas, há diversos métodos de extermínio permitidos, comercializados e até encorajados.
O impedimento do acesso aos recursos básicos, as carências letais, as agressões físicas e os constantes e violentos atentados à vida são tão prejudiciais para eles, não humanos, quanto o seriam para nós, humanos. Eles e nós, coabitamos as cidades por motivos próximos e estamos sujeitos a vulnerabilidades similares. Então, não há justificativa para tratamentos tão desiguais.
No Livro “Zoopolis”, os autores Will Kymlicka e Sue Donaldson propõem um modelo de relação entre humanos e animais, baseado na ideia de co-cidadania e reconhecimento de outras espécies animais como integrantes da sociedade. Quanto mais aprendemos sobre os animais, mais essa ideia faz sentido.
Porém, os preconceitos, os estereótipos e as associações negativas de alguns sinantrópicos à sujeira, perigo e doenças, muitas vezes disseminados pela mídia, dificulta o reconhecimento do valor intrínseco e da dignidade destes coabitantes urbanos.
Texto: Karynn Capilé