A questão do uso de animais em pesquisas científicas tem sido objeto de intenso debate e controvérsia. Enquanto alguns argumentam que não existem alternativas viáveis e que é necessário sacrificar o bem-estar animal em prol do avanço científico, outros questionam se essas alegações são verdadeiramente embasadas em argumentos racionais ou se são apenas desculpas esfarrapadas. Neste texto, vamos explorar essa questão complexa, levando em consideração diversas áreas de estudo, como a psicologia social, a filosofia da ciência e a ética, além de referências de estudos e autores relevantes.
É curioso observar que muitas pessoas que apoiam o uso prejudicial de animais em pesquisas frequentemente se baseiam em opiniões intuitivas para defender sua metodologia de escolha, em vez de se apoiarem em argumentos cientificamente robustos. Estudos como os de Calheiros e colaboradores (2019) têm evidenciado essa falta de embasamento científico nas opiniões dos defensores do uso de animais em pesquisas. Essas pessoas parecem acreditar que estão respaldadas por argumentos sólidos, mas, na realidade, seus posicionamentos estão mais ligados a preconceitos e intuições do que a uma análise aprofundada das alternativas disponíveis.
Outro aspecto intrigante é a argumentação utilizada por esses defensores, que alegam causar sofrimento aos animais apenas quando estritamente necessário. No entanto, é interessante notar que essas mesmas pessoas consomem produtos de origem animal, como alimentos e vestimentas, não por necessidade imediata, mas por preferência pessoal. Essa ambivalência levanta questionamentos sobre a verdadeira base ética e moral que sustenta a conduta desses indivíduos. Autores como Loughnan (2016), em seu trabalho sobre desengajamento moral, analisam os mecanismos psicológicos que permitem às pessoas se desconectarem das consequências negativas de suas ações, permitindo justificar comportamentos contraditórios.
Diante dessas considerações, fica evidente que a questão da justificação do uso de animais em pesquisas é muito mais complexa do que aparenta. Felizmente, pesquisadores de diversas áreas têm avançado no estudo dos fenômenos e mecanismos subjacentes ao suposto julgamento racional humano nesse contexto. Estudos como “Towards a Psychology of Human-Animal Relationships” (Serpell, 2016) têm explorado as relações interespécie e as complexidades morais envolvidas. Além disso, as disciplinas da psicologia social, economia comportamental, epistemologia e filosofia da ciência têm contribuído para a compreensão dos vieses cognitivos, falácias e ideologias invisíveis que permeiam esses debates.
Portanto, refletir sobre a justificativa do uso de animais em pesquisas nos leva a questionar se os argumentos apresentados pelos defensores são de fato racionais ou meras desculpas esfarrapadas. A falta de embasamento científico e a ambivalência observada nessa discussão destacam a necessidade de uma análise mais aprofundada, que leve em conta diferentes disciplinas e autores relevantes, como João Graça Calheiros, Steven Loughnan e os pesquisadores que se dedicam ao estudo do desengajamento moral. Somente por meio dessa abordagem multidisciplinar poderemos avançar em direção a soluções mais éticas e sustentáveis no campo das pesquisas científicas, respeitando os direitos e o bem-estar dos animais.