A experimentação sempre foi um pilar da ciência. Mas à medida que evoluímos, tanto no conhecimento quanto como sociedade, transformamos também os parâmetros, regras e métodos para conduzir investigações empíricas. Nem é preciso voltar muito tempo para encontrar exemplos de abusos grotescos. Um deles é o estudo da sífilis não tratada em Tuskegee, nos Estados Unidos, um caso que hoje nos choca profundamente, mas que foi aceito pela comunidade científica envolvida. Os cientistas se justificaram dizendo que era importante observar o curso natural da doença em homens negros. Esta justificativa foi aceita pelas pessoas que poderiam ter impedido o estudo, que só terminou na década de 70 – recentemente, em termos históricos!
Atualmente, o Princípio dos 3Rs, proposto por William Russell e Rex Burch em 1959, é um dos pilares da discussão ética sobre a experimentação. Este princípio foi uma resposta à crescente preocupação ética sobre o uso de animais em experimentos. Segundo a proposta de Russell e Burch, a pesquisa científica deve procurar ao máximo a substituição de animais por outras alternativas (Replacement); quando a substituição não for possível, deve-se buscar a redução do número de animais utilizados (Reduction); e, em todos os casos, devem ser feitos esforços para melhorar as condições de vida dos animais (Refinement).
Os 3Rs foram uma tentativa de criar uma cultura de responsabilidade ética na pesquisa, minimizando os danos aos animais. Em termos de discurso, esse princípio se espalhou pelo mundo e hoje é parte fundamental das principais diretrizes nacionais e internacionais para experimentação animal.
Porém, embora o discurso seja importante, o que importa são as ações. E, muitas vezes, a prática ainda fica aquém das promessas. O sofrimento animal ainda é, frequentemente, justificado de maneira questionável e aceito sem maiores questionamentos.
Os 3Rs tiveram um papel crucial para inserir questões éticas no contexto da pesquisa científica, mas as discussões sobre ética e ciência avançaram significativamente desde a sua concepção. Hoje, temos disciplinas como a ciência do bem-estar animal, etologia e neurociências que evoluíram exponencialmente, trazendo novos desafios e necessidades.
A abordagem original dos 3Rs, embora tenha sido uma grande inovação em sua época, hoje se mostra insuficiente para lidar com a complexidade das questões atuais de ética e bem-estar animal. Precisamos de soluções mais sofisticadas e atualizadas.
Para responder a esses desafios, alguns têm proposto a inclusão de mais “Rs” aos princípios originais. David Fraser, por exemplo, propôs “Responsiveness” (Responsividade), para incentivar os pesquisadores a serem receptivos às necessidades dos animais. Outros sugeriram “Respect” (Respeito), para enfatizar a importância do respeito pelos direitos dos animais. O bioeticista Jan Deckers propôs “Reconsideration” (Reconsideração) e “Rehabilitation” (Reabilitação), argumentando que devemos revisar nossas práticas atuais e investir na reabilitação de nossa relação com os animais. Marion Endt-Jones sugeriu “Relevance” (Relevância), argumentando que os experimentos devem ser mais relevantes para as necessidades humanas.
E você, quais novos “Rs” fazem sentido para você? Quais considera urgentes para que possamos avançar na ciência sem causar retrocessos no bem-estar dos animais? Nos conte a sua opinião.