Acidentes com transporte de animais vivos são mais comuns do que você imagina

Por que eles acontecem?

  • Infraestrutura e má qualidade das rodovias;
  • Sobrecarga de trabalho do motorista; 
  • Problema de planejamento das empresas (costumam priorizar ganhos econômicos em vez do bem-estar animal);
  • Treinamento ineficiente (ou ausente) dos condutores;
  • Fiscalização ineficiente (da condição dos veículos e da forma de condução);
  • Excesso de animais transportados em condições precárias;
  • Animais sencientes tratados como mercadoria

Na madrugada do dia 5 de agosto, a carreta de dois compartimentos, que transportava 96 bois, tombou no trecho conhecido como “Serrinha da Enseada”. O veículo se dirigia ao Porto de São Sebastião, onde os ruminantes seriam submetidos a cruel exportação de animais vivos, por via marítima, em navio rumo à Turquia. Segundo informado, sete animais morreram no acidente, três fugiram e um precisou ser eutanasiado, devido a graves ferimentos.

Infelizmente, esse não é um evento isolado. Nesse ano também tivemos o exemplo carioca, em que no mês de março o caminhão que transportava dezenas de galinhas tombou na zona oeste do estado. As aves estavam em engradados e, na queda, se espalharam na pista. Muitas morreram no acidente.

Esses casos, entretanto, são raramente noticiados, pois costumam ser expostos pela mídia somente quando problemáticos para os seres humanos, como o intenso trânsito ocasionado pelo acidente em São Sebastião. Esse olhar antropocêntrico, então, prejudica o devido conhecimento do público sobre os riscos e danos aos animais nesse tipo de transporte, permitindo que continuem ocorrendo nos bastidores do agronegócio nacional. 

Os acidentes de trânsito no transporte de cargas (que os animais ainda são erroneamente considerados por muitos) ocorrem por diversos motivos. Dentre eles, a má qualidade das rodovias, com sinalização inadequada e falhas no gerenciamento, fiscalização e manutenção das estradas pode propiciar acidentes como os relatados, ainda mais quando somado ao enorme peso dos caminhões que transportam excesso de animais em condições precárias. Além disso, os motoristas, por necessidade e falta de fiscalização eficiente, dirigem com sobrecarga de trabalho, o que possibilita a reação tardia, já que o cansaço, naturalmente, prejudica o tempo de reflexo. 

É possível indicar problemáticas também quanto ao planejamento das empresas que realizam tal serviço. Isso porque costumam priorizar rotas que geram maiores vantagens econômicas, quando deveriam escolher roteiros que atendessem ao bem-estar dos animais. Aliado a isso, o treinamento e a fiscalização da capacitação das equipes que realizam tais transportes costumam ser insuficientes, deixando, então, muitas vezes a desejar quanto a noções básicas de legislação sanitária e ambiental; comportamento básico das espécies a serem transportadas; práticas de manejo racionais; e necessidades fisiológicas: mínimo conforto térmico, alimentação e dessedentação. 

Um ponto comum a todos os acidentes que vitimam milhares de animais todos os anos, é a ausência (em sua maioria) de planos de prevenção ou mitigação dos acidentes pelas empresas transportadoras. Após o acidente, os animais costumam esperar por longos períodos soltos na pista até receberem assistência ou mesmo abreviação de seu sofrimento, para aqueles em estado mais grave. Muitos fogem, são roubados, mortos (para consumo por transeuntes) ou mesmo se envolvem em novos acidentes. Além disso, a falta de responsabilização legal das empresas pelos transtornos gerados à sociedade e a desobrigação de  rever  procedimentos que priorizem o transporte mais seguro dos animais estimulam a impunidade.

Sendo assim, é importante ressaltar que muitos desses acidentes poderiam ser evitados se houvesse mais investimentos em infraestrutura pelo Estado, além da fiscalização e conscientização por parte das empresas de transporte.

Portanto, o Fórum Animal lamenta os acidentes e se declara veementemente contrário ao transporte precário dos animais vivos. Atua desde 2016 contra a cruel exportação de gado vivo, mas luta também para que seus efeitos nas rotas internas do país permaneçam no passado sangrento do sistema e não mais no cotidiano braisileiro.

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