O caso das orcas Lolita e Tilikum mostram que o tempo de exploração animal precisa acabar

Sexta-feira, dia 18, morreu Lolita, orca mantida em cativeiro há mais de meio século em aquário na Flórida, Estados Unidos. Miami Seaquarium, após chegar a um “acordo vinculativo” com a organização sem fins lucrativos “Friends of Lolita” planejava devolver o animal ao seu habitat natural, conforme divulgado em março deste ano. Infelizmente, Lolita não sobreviveu por tempo suficiente para reaver sua liberdade, roubada nos anos 70, quando foi afastada de sua família, aos 4 anos de idade. 

Lolita foi uma das vítimas das mais cruéis capturas de orcas da época. Na década de 70, os caçadores faziam parceria com os pescadores locais para levar os filhotes de orca que ficassem presos em suas redes, a fim de lucrar com as vendas desses para os parques aquáticos, como o Seaworld e o Miami Seaquarium.  Em certo momento, havia mais de 90 orcas presas nas redes de pesca, as quais ativistas dos direitos dos animais tentaram cortar, mas alguns ficaram presos, 4 filhotes morreram. No mesmo mês, 8 foram capturadas, incluindo Lolita. 

Após a venda para o Miami Seaquarium, Lolita foi mantida sozinha por mais de 40 anos. Ela foi comprada para se apresentar com Hugo, outra orca, que morreu em 1980. Lolita não possuiu, então, a oportunidade de socializar, algo extremamente prejudicial para a sua espécie que possui o comportamento natural de viver em grupo. Além de ser mantida em solidão, foi confinada em um tanque de 26 por 11 metros, considerado perigosamente pequeno para um animal de aproximadamente 6 metros de comprimento, ainda mais quando comparado com a natureza, em que vivem em águas profundas. 

Infelizmente, essa cruel história não é um evento isolado. Assim como Lolita, que viveu a maior parte de sua vida em um tanque extremamente pequeno sendo explorada para o entretenimento humano, a orca macho conhecida como Tilikum também foi vítima de inúmeras torturas. Seu sofrimento começou aos dois anos de idade, quando foi capturada e separada de sua mãe e família, e posteriormente levada a um pequeno cativeiro onde era forçado a aprender truques, e como punição se não cumprido, ficava sem receber a alimentação. O espaço limitado, sem dúvidas, impedia as orcas ali presentes de expressar seu comportamento natural, assim como Lolita,  gerando seu sofrimento e por consequente, um ambiente de estresse constante e desgaste mental, provocando um possível desenvolvimento de distúrbios psíquicos. O caso veio à tona, principalmente, após o documentário “Blackfish” que relata suas terríveis condições e o triste fim de sua treinadora. Tilikum, assim como Lolita, morreu em cativeiro e não teve a chance de conhecer a liberdade, provada somente em seus 2 primeiros anos de vida. Afinal, para capturar os animais, os culpados são rápidos, mas para soltar, nem tanto. 

Casos como o da Lolita e de Tilikum demonstram a urgência de se cobrar e responsabilizar as empresas responsáveis por sua exploração comercial que executem programas de soltura ou destinação ética, com prazos e ações concretas. Para além de uma promessa pública, porém vazia, é necessário que os animais possam experienciar sua liberdade novamente. Em muitos desses casos, os animais são retirados dos olhos dos espectadores, poupados dos shows de horror, mas ainda mantidos solitários, em recintos deploráveis que garantem apenas uma sobrevida em condições péssimas, enquanto esperam uma resolução por parte das empresas que lucraram com suas vidas. Parece que o movimento para a exploração animal é sempre muito mais veloz que o processo para devolver sua dignidade.

Além da cruel realidade dos cativeiros e das apresentações para entretenimento humano, as orcas também sofrem com a diminuição da expectativa de vida. Na natureza essa fica entre os 50 e os 80 anos, com algumas fêmeas chegando aos 90. Já as orcas nascidas em cativeiro possuem a estimativa de vida, em média, de 4 anos, de acordo com o projeto Whale and Dolphin Conservation. O abismo entre essas estimativas é gritante e é mais um demonstrativo numérico da necessidade de acabar com essa prática.  

O Fórum Animal, diante das atrocidades da forma de captura de orcas, da inexistente qualidade de vida nos tanques e apresentações, além da diminuição da expectativa de vida, se declara veemente contrário ao cenário de tortura desses mamíferos. O Seaworld recentemente anunciou que as orcas não farão mais parte das apresentações do parque, mas ainda impõe a outros golfinhos o alto preço do entretenimento humano, assim como o Miami Seaquarium. O Fórum, então, espera que os envolvidos no caso de Lolita e tantos outros sejam devidamente punidos e que haja conscientização da população para que não financie esses e similares absurdos frequentando tais parques aquáticos.

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