No início dos anos 2000, uma brincadeira entre dois cartunistas dos EUA, Casey Sorrow e Eric Millikin, ainda estudantes na época, deu origem ao Dia Mundial do Macaco, comemorado em 14 de dezembro. O que começou como brincadeira evoluiu para um evento global de celebração e conscientização sobre a conservação das diversas espécies de macacos, que desempenham papel vital na preservação dos ecossistemas que habitam.
O termo popular “macaco” designa um grupo amplo e variado de espécies de primatas, que pode incluir até mesmo micos e saguis, os quais são muito comuns em nossa fauna. Como forma de comemorar o Dia Mundial do Macaco, propomos um olhar especial para os esforços de conservação dos animais nativos do Brasil, em especial o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia). Essa espécie ocorre exclusivamente em regiões de Mata Atlântica e, portanto, tem sofrido muito com a degradação desse ecossistema ao longo de centenas de anos.
Atualmente, a espécie é considerada ameaçada de extinção, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A estimativa da IUCN e da Associação Mico-Leão-Dourado é de que existam entre 1.400 e 4.800 indivíduos na natureza.
Nos anos 70 e 80, a situação era dramática, pois a espécie chegou a pouco mais de 500 indivíduos. Desde então, constantes esforços para reprodução e reintrodução evitaram que a espécie fosse completamente extinta na natureza.
O projeto de conservação do mico-leão-dourado desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) desempenha um papel crucial diante da ameaça à sobrevivência dos micos, cujo habitat foi historicamente explorado e devastado, restando apenas fragmentos constantemente ameaçados pela expansão urbana.
A relação de dependência do mico-leão-dourado com a Mata Atlântica é tamanha, que a espécie é considerada símbolo de conservação desse bioma, além de estampar a nota de 20 reais, como símbolo da nossa fauna.
Entretanto, para além da perda de habitat, o mico-leão-dourado foi e ainda é muito cobiçado como um animal de estimação, o que o torna alvo do tráfico nacional e internacional de animais.
Os esforços concentrados em proteger, reintroduzir e gerir esses pequenos primatas têm um papel crucial na manutenção dessa espécie ameaçada. Iniciativas como a Associação Mico-Leão-Dourado destacam-se não apenas por preservar o habitat desses animais, mas também por se envolver ativamente no resgate de indivíduos feridos ou órfãos.
Além disso, adotam programas de reprodução em cativeiro para fortalecer a população selvagem, representando só uma das muitas organizações que atuam na preservação dos macacos nativos.
Em última análise, é importante reconhecer que os macacos são componentes de um ecossistema complexo, e que, como indivíduos, merecem respeito e proteção. Dotados de inteligência, complexidade emocional e um papel vital na manutenção dos sistemas naturais (muitas espécies são ótimas dispersoras de sementes!), esses primatas – assim como outros macacos – merecem nossa consideração ética e cuidado responsável.
Ao compreendermos a singularidade de cada espécie de macaco e o valor intrínseco de suas vidas, estamos fortalecendo não só a diversidade biológica do nosso planeta, mas também demonstrando um compromisso com a preservação de formas de vida extraordinárias.
Nesse Dia Mundial do Macaco, cabe também lembrar o trabalho desenvolvido pela primatologista, etóloga e antropóloga britânica Jane Goodall, considerada a maior estudiosa em chimpanzés do mundo.
Referência para muitos estudiosos em todo o mundo, Goodall faz parte do comitê do Projeto de Direitos dos Não-Humanos (“Nonhuman Rights Project” ou NhRP, na sigla em inglês) desde sua fundação, em 1996. A organização é a única nos Estados Unidos dedicada exclusivamente a lutar para garantir os direitos de animais não-humanos.
Autora: Thayara Nadal, Médica Veterinária e Assessora no projeto Vida Silvestre, Vida Livre do Fórum Animal
Autor: Luiz Rezende, Biólogo e Gerente no projeto Vida Silvestre, Vida Livre do Fórum Animal