Como as edificações e construções humanas impactam a vida dos animais
Arquitetura hostil ou desurbanidade é termo que busca definir uma prática que envolve tipos de construções que visam restringir o acesso de determinados públicos a prédios ou outros tipos de espaço. É uma forma de definir edificações ou espaços públicos projetados para serem inseguros ou causar desconforto, impedindo que pessoas (e animais) ali permaneçam.
Pinos metálicos pontiagudos, cilindros de concreto, pedras instaladas nas calçadas de imóveis ou até mesmo prédios excessivamente iluminados são alguns exemplos que têm em comum o objetivo de impedir que pessoas e animais possam trafegar ou até mesmo se manter, principalmente aqueles em situação de rua.
A prática causa inclusive impactos ambientais negativos e piora na qualidade de vida da população como um todo, uma vez que áreas naturais (com plantas e gramados) podem ser alteradas, passando a ser concretadas para receber esses elementos, a fim de afugentar a população em situação de rua. Além de desumano, essa prática em nada contribui para uma resolução ética e humanitária para o déficit habitacional, consumo de entorpecentes e outras razões que pressionam para que muitas pessoas acabem indo parar nas ruas.
Claro que essa desurbanidade também afeta os animais não humanos. Cães, mas também gatos, podem ser mantidos pela população em situação de rua e acabam também sendo deslocados ou até mesmo machucados por estas intervenções urbanas.
Para os animais há outros tipos de construções que causam danos. Prédios, casas revestidas e até mesmo muros de vidros podem ser uma ameaça às aves. Cercas e fiações elétricas podem se tornar fatais para mamíferos (como pequenos primatas) e as rodovias se tornam um grande cemitério de animais que veem seu habitat fragmentado e são vítimas de atropelamento.
Portanto, é preciso termos consciência dos impactos que causamos aos animais para propomos mudanças na maneira como as habitações e as cidades se desenvolvem, para que tanto animais como pessoas sejam protegidas.
A Lei nº 14.489 de 21 de Dezembro de 2022, também conhecida como Lei Padre Júlio Lancellotti veda o emprego de técnicas construtivas hostis em espaços livres de uso público que tenham como objetivo ou resultado o afastamento de pessoas em situação de rua, idosos, jovens e outros segmentos da população.
E no caso dos animais, há propostas tramitando no Congresso para proteger aves de colisão com prédios envidraçados, como o caso do Projeto de Lei 4102/20.
Autora: Haiuly Viana, Médica Veterinária e Gerente Técnica do Fórum Animal