A revitimização é o fenômeno que compreende a violência sistemática, por meio do qual a vítima experimenta um sofrimento continuado e repetitivo, mesmo após cessada a violência original.
É um termo utilizado para descrever processos em que pessoas humanas são vítimas novamente de um crime, abuso ou trauma após ter passado por uma experiência traumática anterior. Ocorre quando a vítima acaba enfrentando uma situação semelhante ou quando é submetida a uma nova forma de vitimização provocada pelas atitudes de um terceiro. É o que acontece muitas vezes com mulheres vítimas do machismo, quando procuram instituições policiais ou mesmo no judiciário.
A revitimização no mundo animal acontece com diferentes grupos de animais, mas certamente um dos principais grupos que padecem deste mal são os de vida livre.
Um animal silvestre vítima do convívio forçado com humanos, que por exemplo tenha sido pego em alguma armadilha, como na arquitetura hostil gerada por uma janela envidraçada, arame farpado ou mesmo que tenha sobrevivido a um caçador pode acabar se tornando vítima de um terceiro: uma pessoa que aparentemente visa ajudá-lo mas o prejudica novamente!
Podemos dizer que este é o caso do esquilo Peanut que foi retirado da natureza e criado próximo a humanos.
O caso aconteceu nos EUA, perto da fronteira com a Pensilvânia, na zona rural de Pine City. O animal foi capturado na casa do cuidador e encaminhado para eutanásia em uma situação que ainda exigirá maiores investigações.
De acordo com as autoridades, após reclamações anônimas, os agentes do Departamento Estadual de Conservação Ambiental levaram o esquilo e um guaxinim chamado Fred da casa onde eram mantidos como animais de estimação. Na sequência dos fatos, o Departamento Estadual de Conservação Ambiental e o Departamento de Saúde do Condado local confirmaram o destino dos dois animais.
O esquilo possuía mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais. Ele e o guaxinim que eram mantidos sem autorização e em contato com humanos foram apreendidos e eutanasiados para investigação da raiva.
Vivemos uma febre persistente e que talvez demore a passar: a dos ditos “animais influencers”. Na verdade, são perfis geridos por pessoas que compartilham a rotina com animais e acabam humanizando situações. Colocam roupas, oferecem alimentos inapropriados e interagem de maneiras que não são naturais ao repertório comportamental destes indivíduos.
Estas pessoas podem até inicialmente ter tido boas intenções, ou seja, removeram os animais de situações de riscos, promoveram sua reabilitação mas ao invés de destinar adequadamente (como entregar às autoridades locais para tentar a soltura e reintrodução no habitat natural) os mantém sob seus cuidados e começam a compartilhar esta rotina nas redes sociais. Acabam acumulando seguidores e gerando uma série de exemplos que não devem ser seguidos. Além disso, perfis com muito engajamento acabam monetizando seus criadores, fomentando um outro tipo de comércio que também explora a vida selvagem, semelhante ao tráfico e comércio legais.
Pode ser uma situação aparentemente mais inofensiva que tráfico ou comércio mas tão danosa quanto. O efeito deseducativo de ações como estas são enormes. E no caso dos animais silvestres é ainda mais grave, uma vez que estes seguidores passam a desejar reproduzir estes formatos problemáticos de interação. Além de perigoso, isso é mais uma forma de exploração.
Casos como do esquilo Peanut demonstram que estes animais explorados nas redes sociais, tratados aparentemente como membros da família e repletos de “falsos” privilégios, mesmo estando aparentemente soltos, estão na verdade presos e condenados a um cativeiro perpétuo. Este tipo de criação irregular acaba reduzindo as chances de reintrodução na natureza e, além disso, podem culminar em situações como a de Peanut e Fred, que foram condenados à morte para investigações sanitárias. Uma atitude claramente especista das autoridades que ao invés de responsabilizar seus cuidadores prejudicaram as reais vítimas.
Texto: Haiuly Viana