Por um carnaval sem exploração de animais para fantasias

Parte dos adereços usados nas fantasias tem origem na exploração e no tráfico de animais. PLs querem proibir o uso desses materiais.

Por Thayara Nadal, assessora, e Luiz Rezende, gerente no Fórum animal para o Fauna News

O Carnaval é uma das maiores expressões culturais do Brasil. Conta com cores vibrantes, ritmos contagiantes e fantasias deslumbrantes, que tomam conta das ruas e dos desfiles. Mas, em meio a toda essa celebração, um detalhe muitas vezes passa despercebido: a origem dos adereços usados nas fantasias.

Parte dos acessórios que incluem penas, plumas e couros tem sua origem em animais silvestres ou criados para exploração. Portanto, por trás do brilho e do luxo do Carnaval, há também sofrimento animal, destruição da biodiversidade e incentivo ao tráfico de fauna. Diante disso, surge a pergunta: será que vale a pena manter a “tradição” quando existem alternativas livres de crueldade?

A presença das penas coloridas e a imponência dos adereços de origem animal nas fantasias de carnaval podem parecer inofensivos, mas a realidade por trás da extração desses materiais é alarmante. A indústria da moda, do artesanato e do entretenimento ainda explora os animais para a retirada de penas, plumas, pelos e couros, ignorando o sofrimento e os impactos ambientais dessa prática.

Há alguns exemplos de escolas de samba que se posicionaram contra utilizar penas de animais em desfiles passados e passaram a usar produtos sintéticos. Porém, não é surpresa que ainda existam desfiles em que as fantasias contam com penas provenientes de aves silvestres, como araras, tucanos e papagaios, que são caçadas ou mantidas em cativeiro para a extração contínua de suas plumas. Outras vezes, os adereços são provenientes de animais explorados em cativeiros, como gansos, faisões e avestruzes, submetidos a condições precárias de vida.

A retirada de penas pode ser extremamente dolorosa, muitas vezes feita com os animais vivos. Além disso, o tráfico de animais silvestres no Brasil, um dos maiores do mundo, é impulsionado pela demanda de subprodutos da fauna, além de ser fomentado pela ideia de que os animais silvestres são vistos como produtos de desejo. Essa visão reforça inclusive o especismo, em que a própria fantasia frequentemente expressa a ideia de superioridade dos humanos em relação aos animais silvestres dominados.

Projetos de lei pelos animais

Esse caso é urgente e demanda discussão política que já está sendo encaminhada no Brasil. Exemplo disso é que existem aos menos três projetos de lei (PLs) que propõem mudar essa realidade:

  • Projeto de lei nº 1.097/2019, de autoria do deputado federal Célio Studart (PSD). Dispõe sobre a proibição, em todo o território nacional, da utilização de penas e plumas de origem animal para a produção de fantasias e alegorias.
  • Projeto de lei nº 605/2023, de autoria do deputado federal Delegado Matheus Laiola (União). Propõe alterar a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) para proibir, em todo o território nacional, a confecção e o uso de fantasias e de alegorias, utilizando, como matéria-prima, partes de origem animal.
  • Projeto de lei nº 663/2023, de autoria da deputada federal Dayany Bittencourt (União) – apensado no PL nº 1097/2019. Propõe alterar a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, para vedar, em todo o território nacional, a utilização de penas, plumagem ou penachos de origem animal para a produção de fantasias, alegorias, enfeites, adornos, ornamentos e guarnições, incluindo-se as fantasias carnavalescas.

Apesar de serem passos importantes, esses PLs estão avançando lentamente na Câmara dos Deputados. Dentre variados fatores inerentes à política, a falta de prioridade para pautas de proteção animal faz com que essas propostas fiquem estagnadas enquanto a exploração continua. Para que essas leis se tornem realidade, é essencial pressão popular. Parlamentares precisam ouvir que a sociedade quer mudanças!

O Fórum Animal acompanha com bastante atenção a movimentação política em torno de temas que, como esse, envolvem exploração e maus-tratos aos animais no Brasil. Esse trabalho é desenvolvido pela Frente Legal Animalista, que busca atuar junto ao legislativo para que mudanças em benefício dos animais aconteçam junto à administração pública.

Sobre necessidade de leis que proíbam o uso penas e plumas de animais para a confecção de fantasias, a gerente da Frente Legal Animalista do Fórum Animal, Haiuly Viana, pondera:

“Para a realização de um carnaval mais ético aos animais, é preciso não só a apresentação de projetos de lei, mas a ocorrência das articulações políticas nas casas legislativas para fazer a tramitação dos temas acontecer. Soma-se a isso a importância da mobilização social para fomentar debates importantes para políticas animalistas”.

Haiuly, que também é médica veterinária, prossegue: “Para o estabelecimento de um carnaval sem sofrimento animal, é preciso um conjunto de outras medidas, como uma mudança nos critérios de avaliação do Carnaval para que o público e os avaliadores consigam enxergar beleza em adereços e fantasias produzidos com materiais sintéticos. Todas essas ações em conjunto poderão tornar o carnaval livre de sofrimento animal”.



Opções sustentáveis

Enquanto ainda caminhamos a passos lentos no trâmite dos PLs, é importante divulgarmos que existem diversas opções sustentáveis e livres de sofrimento animal para a produção de fantasias e adereços:

  • Penas sintéticas – Produzidas a partir de materiais como poliéster e fibras vegetais, são visualmente semelhantes às naturais e cada vez mais acessíveis.
  • Tecido orgânico e biodegradável – Materiais como algodão orgânico, fibras de bambu e tecidos reciclados criam efeitos leves e elegantes.
  • Flores e folhas secas – Adereços naturais que trazem cor e textura, podendo ser reutilizados e compostáveis.
  • Materiais reciclados – Tecidos, plásticos e papéis reciclados podem ser transformados em enfeites sofisticados e sustentáveis.

Nos desfiles de Carnaval, na moda e no design, já existem alternativas que evitam o sofrimento animal. Fazer escolhas éticas não significa abrir mão da beleza, mas, sim, valorizar a vida.

A cultura não precisa explorar animais para ser deslumbrante. Mas para que isso aconteça, precisamos agir: debater e apoiar iniciativas que priorizam os animais e visam mitigar os impactos negativos em suas vidas, além de cobrar avanços e escolher produtos que respeitem os animais e o meio ambiente. Assim, conseguimos construir um futuro em que a beleza seja sinônimo de respeito!

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