Cavalos na Produção de Antivenenos: O Sofrimento Invisível e a Urgência por Alternativas

Poucos sabem, mas cavalos são amplamente utilizados na produção de soros antiveneno para o tratamento de picadas de serpentes, aranhas e escorpiões, além de doenças como tétano e raiva. Esse método, desenvolvido há mais de 130 anos, baseia-se na injeção de doses de venenos para estimular a produção de anticorpos. Após esse processo, os cavalos passam por sangrias, onde são retirados cerca de 10 litros de sangue a cada 50 dias. Ao longo de sua vida, esses animais são submetidos a diversas sangrias anuais, tornando-se verdadeiras máquinas biológicas para a produção de soros.

Embora sejam considerados “ideais” para esse processo devido à sua docilidade e grande volume sanguíneo, os cavalos sofrem silenciosamente com os impactos severos da hiperimunização. O acúmulo de toxinas ao longo dos anos compromete órgãos vitais, como fígado e rins, resultando em doenças graves, como amiloidose, e falência renal. Além disso, as repetidas injeções de veneno frequentemente resultam em abscessos e reações inflamatórias dolorosas.

O que torna essa situação ainda mais alarmante é a falta de regulamentação e fiscalização externa. A própria indústria de soros controla as condições a que esses animais são submetidos, um evidente conflito de interesses. Não há normas que limitem a quantidade de toxinas injetadas nem a extração de sangue, o que agrava ainda mais a vulnerabilidade desses cavalos.

Apesar de sua longa história, o soro equino ainda apresenta problemas como alta taxa de reações adversas e falta de padronização em potência e dosagem. Os danos para os cavalos e a insegurança sobre eficácia do soro indicam a necessidade de que esforços sejam direcionados para o desenvolvimento de métodos mais seguros e eficazes, tanto para os pacientes quanto para os animais envolvidos. Enquanto essa transição não se concretiza, é indispensável que sejam adotadas medidas rigorosas de refinamento, garantindo um controle independente e transparência no processo para minimizar impactos negativos sobre o bem-estar dos cavalos.

A invisibilidade desses animais e a ausência de fiscalização externa reforçam a necessidade de um debate mais amplo e de iniciativas concretas para aprimorar esse cenário. Investir em alternativas e garantir a supervisão independente são passos fundamentais para alinhar a ciência e a ética na busca por soluções mais justas e seguras.

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