O papel do audiovisual na vida dos animais

Autora: Haiuly Viana, gerente técnica do Fórum Animal

A animação Flow, ganhadora de um Oscar de melhor animação na premiação deste ano, vem conquistando muitos fãs pelo mundo e é um enorme sucesso no seu país de origem, a Letônia.

A trama é simples: um gato tem seu lar  devastado por uma grande inundação. Ele encontra refúgio em um barco povoado por várias outras espécies de animais e tem que se unir a elas apesar de suas diferenças. A história não possui diálogos. A animação possui algumas falas de animais reais, gravadas de animais tutelados por membros da produção, como os cães e gatos, mas também de animais mantidos no zoológico do país (camelo e macacos).

Tanto a estatueta do Oscar 2025 quanto o troféu do Globo de Ouro foram expostos no Museu Nacional de Arte da Letônia visitado por milhares de pessoas. 

O governo local também ergueu uma estátua do gatinho em Riga, a capital do país. Além disso, artistas passaram a espalhar a arte pelas ruas com desenhos do personagem. Essa grande comoção em torno da animação impulsionou a adoção de gatos pretos nas redes sociais. Muitos internautas passaram a chamar os gatos pretos de gatos “tipo Flow”.

Sabemos que estes movimentos podem auxiliar a derrubar preconceitos ainda existentes contra gatos pretos, associados ao misticismo e superstições infundadas. Entretanto, é preciso olhar com cautela para essas ações viralizadas e a impulsividade que as redes sociais geram no comportamento humano.

A adoção de um novo animal é um compromisso sério e para uma vida inteira. A decisão de adotar deve envolver todos os membros da família e ser tomada com bastante critério. Não devemos incentivar adoções por modismos, por impulso ou mesmo para virar conteúdo para perfis de redes sociais. Os resultados disso, a médio e longo prazo, podem ser animais negligenciados nas casas ou mesmo um incremento de animais abandonados ou devolvidos aos abrigos.

As animações que envolvem espécies silvestres,  podem impactar negativamente a vida dos animais. O filme  “Procurando Nemo” aumentou em até 40% a venda  de peixes-palhaço, que costumam ser retirados diretamente do mar . A espécie é a mesma dos personagens Nemo e seu pai Marlin. O mesmo aconteceu com a espécie cirurgião-pateta (Dory) do filme “Procurando a Dory”; Esse movimento contraria a própria mensagem dos filmes: que é a conservação dos animais em seu habitat natural. 

Em  “Madagascar”, animais selvagens extremamente carismáticos, falantes vivem felizes morando em um zoológico. A mistura de espécies e essa aparente “felicidade” não são compatíveis com a realidade dos animais reais que são mantidos em cativeiro. 

Estas situações artificiais podem deseducar o público infantil que passa a cobiçar estes animais como objetos de consumo.

Devemos incentivar produções audiovisuais que estimulem a conscientização sobre o respeito aos animais e que mostrem como a espécie humana pode interagir com o planeta (e demais seres sencientes) sem causar maiores danos. Tais produções podem ser ferramentas importantes para promover conscientização desde que desenvolvidas com muita responsabilidade. 

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