24 de Abril, Dia Mundial pelos Animais em Laboratórios: um chamado ao compromisso científico


Autora: Karynn Capilé, gerente de Bioética do Fórum Animal


Desde 1979, o dia 24 de abril marca o World Day for Animals in Laboratories, uma data criada pela National Anti-Vivisection Society (NAVS) com o objetivo de chamar atenção para os milhões de animais que, diariamente, são submetidos a testes, experimentos e procedimentos dolorosos em nome da ciência. Longe de ser um dia comemorativo, trata-se de uma data de reflexão e responsabilidade. É um convite à consciência, ao questionamento e, acima de tudo, à ação.

Em diferentes partes do mundo, esse dia tem sido marcado por protestos, eventos educativos, vigílias e campanhas públicas. A meta é simples e, ao mesmo tempo, profunda: dar visibilidade aos indivíduos que vivem escondidos atrás de portas fechadas, privados de qualquer expressão de suas naturezas, reduzidos a números, instrumentos ou, “modelos experimentais”, como costumam ser chamados.

No Fórum Animal, temos trabalhado intensamente para combater essa exploração. E enfatizamos que estamos falando dos animais em laboratórios, e não “de” laboratório, pois “ser de laboratório”, não é uma característica deles, mas uma situação circunstancial, imposta a eles. É o resultado de uma relação instrumental que nega a individualidade, os interesses e a oportunidade de experiências positivas a esses sujeitos.

Através do projeto Ciência sem Jaulas, cursos de capacitação e campanhas de conscientização, temos buscado construir pontes entre ciência e ética, mostrando que é possível (e necessário) fazer ciência de forma diferente. Uma ciência que reconheça a senciência, a dor e as emoções dos animais não humanos e que evolui com o conhecimento e não permanece cristalizada em práticas engessadas.

Neste 24 de abril, queremos fazer um apelo: que cada pessoa — especialmente aquelas envolvidas com ciência, pesquisa e ensino — pare por um momento para refletir. Como são as vidas dos animais em laboratórios? Que tipo de experiências eles vivem do nascimento até a morte? Será justo impor essa vida a alguém? Ainda que existam justificativas, interesses ou possíveis benefícios, será que é ético?

Ao longo da história, muitas atrocidades foram justificadas em nome de supostos benefícios. Mas há quase meio século, Peter Singer defendeu que o princípio da igualdade, tradicionalmente aplicado entre humanos, também deve incluir os animais não humanos. A ideia de que interesses semelhantes devem receber igual consideração, independentemente da espécie, se tornou um dos pilares conceituais da ética animal contemporânea. Se reconhecemos que determinado dano é injusto quando infligido a um ser humano, aceitá-lo quando dirigido a um animal que também pode sofrer é, por definição, uma injustiça. Ignorar isso é repetir os mesmos padrões de discriminação que marcaram os erros do passado.

Hoje, queremos nos desculpar com todos os animais que estão, neste exato momento, presos em gaiolas, privados da oportunidade de boas experiências, sofrendo intervenções dolorosas, sendo submetidos a procedimentos repetitivos e invasivos. Pedimos perdão pela falta de coerência ética e pela lentidão com que a humanidade reconhece injustiças quando estas são institucionalizadas. Seguiremos batalhando por mudanças.

Também queremos fazer um pedido sincero a quem atua dentro da comunidade científica: por favor, sejam mais cientistas! 

  • Refutem hipóteses frágeis. Atualizem seus métodos. Abandonem procedimentos baseados mais na inércia institucional do que em evidências robustas. 
  • Leiam mais ciência. Sejam mais céticos, mais críticos, mais curiosos com hipóteses e menos presos ao automatismo do “sempre foi assim”.
  • Lembrem-se das observações de Darwin sobre a continuidade evolutiva entre humanos e outros animais, incluindo nossas emoções.
  • Conheçam os estudos de Jaak Panksepp, que revelou as bases neurológicas das emoções em mamíferos e destacou que sistemas cerebrais afetivos são compartilhados entre espécies. E explorem a vasta literatura em etologia, neuroscienências, ciência do bem-estar animal e biologia evolutiva que reafirma, dia após dia, essa mesma conclusão.
  • Vejam a Declaração de Cambridge sobre a Consciência, assinada por cientistas renomados, reconhecendo publicamente que os animais não humanos são seres conscientes. 
  • Estudem os trabalhos de Daniel Kahneman e Amos Tversky, reconhecidos com o Prêmio Nobel de Economia, que revelaram como nossas decisões são constantemente moldadas por vieses. E como esses desvios de raciocínio estão entre os maiores riscos para uma ciência de qualidade, pois comprometem nossa capacidade de interpretar dados, revisar crenças e agir com coerência.

Neste 24 de abril, o que pedimos é simples, mas urgente: coerência. Ética com base no conhecimento atual. Ciência com responsabilidade moral. Uma real consideração do sofrimento alheio, quase sempre invisível e inaudível, vivido dentro de gaiolas, atrás de portas fechadas.

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