Proteger os animais não é tarefa exclusiva de ONGs e ativistas, mas de toda a sociedade. Cientistas e pesquisadores brasileiros, por exemplo, podem exercer um papel fundamental na transformação das práticas científicas que impactam diretamente milhares de indivíduos, humanos e não humanos.
Isso pode, e deve, acontecer a partir de dentro da própria estrutura científica. Participar de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a FeSBE, o CNPq, o MCTI e outras organizações com poder de influência em conselhos consultivos, deliberativos e de fomento, permite levantar questões éticas e metodológicas relevantes sobre práticas de pesquisa ou ensino, incluindo o uso de animais.
E a contribuição vai muito além da ocupação de cargos. Cientistas e pesquisadores também podem, e devem:
- Analisar criticamente a validade e necessidade de modelos animais, questionando a continuidade de métodos obsoletos;
- Adotar limites éticos claros ao avaliar propostas ou conduzir experimentos, como orienta o Guia APEPA do Fórum Animal (cap. 8, p. 47–50);
- Incentivar ativamente a adoção de métodos mais coerentes com o conhecimento, as ferramentas e as demandas contemporâneas, como o uso de Big Data e abordagens da ciência de dados em larga escala, incluindo crowdsourcing, análises multivariadas e modelagem estatística.
- Fomentar o conhecimento e a adoção de estratégias de pesquisa que não dependem do uso de animais, como os modelos in silico (simulações computacionais), in chemico (testes baseados em reações químicas), in vitro (ensaios controlados, fora do organismo), além de organóides, sistemas microfisiológicos e outros métodos capazes de oferecer dados confiáveis e relevantes sem envolver sofrimento animal.
De forma prática, isso pode acontecer quando a pessoa cientista atua:
- Como revisora de artigos científicos, exigindo justificativas robustas para o uso de animais e recomendando o uso de métodos alternativos quando cabível;
- Como membro de comitês científicos, influenciando os critérios de aprovação de projetos e alocação de recursos;
- Em bancas de avaliação, ajudando a formar novas gerações de pesquisadores com senso crítico e responsabilidade ética;
- Como professora, supervisora ou orientadora, inspirando estudantes a pensarem em ciência sem sofrimento evitável;
- Na divulgação científica, levando ao público discussões sobre novos métodos, eficácia de abordagens alternativas e avanços na ciência sem animais;
- Como integrante de conselhos profissionais (como de biologia, medicina veterinária e áreas afins), promovendo debates técnicos sobre boas práticas e atualizações nas normas profissionais.