Enchentes no RS e os animais silvestres confinados

O estado gaúcho enfrenta atualmente o seu maior desastre ambiental registrado até então. De um total de 446 municípios, apenas 51 não foram afetados pela chuva. Os números alarmantes de desabrigados, desalojados e animais impactados revelam a magnitude da tragédia. Enquanto bombeiros, defesa civil, entidades civis e poder público se mobilizam para resgatar e auxiliar os mais de 80 mil desabrigados, 500 mil desalojados e mais de 11 mil animais domésticos afetados, surge uma preocupação adicional: o destino dos animais silvestres confinados em zoológicos.

Nossa equipe realizou um levantamento que revelou a existência de mais de 15 estabelecimentos que confinam animais silvestres na região afetada pelas enchentes. Os principais zoológicos afetados são o Zoo de Sapucaia do Sul e o MiniZoo – Zoológico Municipal de Canoas. O Zoo de Sapucaia do Sul anunciou em suas redes sociais que o estabelecimento permanecerá fechado até que as condições melhorem e que os animais estão sendo devidamente assistidos. Por outro lado, o MiniZoo de Canoas, que é administrado pela prefeitura da cidade, não fez nenhum pronunciamento direto sobre a situação dos animais até o momento. Os animais, que já enfrentam condições de vida estressantes devido ao cativeiro, agora se encontram ainda mais vulneráveis diante do desastre. Nesse sentido, a dificuldade enfrentada pelas equipes para resgatá-los é imensa, considerando não só a logística complicada, mas também o estado de estresse natural que os animais silvestres enfrentam em situações como essa. Entendemos que toda essa situação envolvendo animais confinados é deleicada, ressaltando como os animais estão sujeitos a um duplo impacto: o do confinamento habitual e o da emergência provocada pelo desastre.

No entanto, mesmo diante desses desafios, esforços estão sendo feitos para mitigar os danos e garantir o bem-estar dos animais afetados. O Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) de Porto Alegre já conseguiu relocar os animais em sua custódia para áreas seguras, apesar das dificuldades financeiras e logísticas. Parques zoológicos como o de Sapucaia do Sul estão prestando assistência veterinária aos animais e permanecem fechados temporariamente até que a situação se estabilize.

Apesar desses esforços, ainda há uma grande preocupação com os criadouros/mantenedores de fauna localizados em áreas de risco e que não puderam ser contatados devido à gravidade da situação. A vulnerabilidade dos animais nessas circunstâncias reforça a necessidade de um plano abrangente de resposta a desastres que inclua não apenas a proteção das comunidades humanas, mas também a consideração dos impactos sobre a fauna selvagem confinada.

Thayara Nadal, Médica Veterinária no projeto Vida Silvestre, Vida livre do Fórum Animal.

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