O avanço da ciência tem papel fundamental no desenvolvimento da sociedade, resultando em inovações, descobertas e mudanças de paradigmas. Durante séculos, os modelos animais tiveram um papel importante na compreensão dos processos biológicos, doenças e tratamentos. Porém, à medida que conhecemos mais profundamente a cognição, emoções e bem-estar dos animais e compreendemos o problema ético do uso prejudicial de animais para qualquer finalidade, fica mais claro que a pesquisa baseada em modelos animais é insustentável. No mesmo sentido, o crescente desenvolvimento de abordagens alternativas ao uso de animais evidencia que o fato de a instrumentalização dos animais em pesquisas ter ocorrido ao longo da história não justifica sua continuação.
Hoje sabemos que qualquer indivíduo senciente submetido a testes invasivos experimenta angústia, dor e medo. Este fato nos impele moralmente a reconsiderar as práticas tradicionais e procurar metodologias mais eficientes, cujos exemplos só aumentam. Um deles são as Novas Metodologias de Abordagem (a sigla em inglês é NAMs) que permitem testes menos prejudiciais e mais precisos, incluindo métodos in vitro, modelos computacionais e triagem de alto rendimento, que reduzem significativamente ou até eliminam a necessidade de testes em animais, principalmente no campo da toxicologia.
Mais um exemplo promissor é a tecnologia “órgão-em-um-chip”, que simula a estrutura complexa e funcionalidade dos órgãos humanos em um microchip, podendo gerar dados mais precisos e relevantes do que os modelos animais, melhorando a precisão preditiva de testes para resposta a medicamentos, produtos químicos e doenças.
Outro exemplo, com grande potencial de revolucionar a biomedicina atingindo uma excelência nunca vista, é o “big data” (grande volume de dados) e os avanços na ciência de dados. Registros eletrônicos e bancos extensos de dados de saúde oferecem um tesouro de informações para modelagem computacional de doenças, previsão e medicina personalizada, diminuindo drasticamente ou acabando com a dependência de modelos animais.
O avanço da nossa sociedade, portanto, depende não apenas de um progresso tecnocientífico, mas também ético. Ao desenvolvermos e adotarmos abordagens de pesquisa que contemplem as diversas dimensões fundamentais para o desenvolvimento social, nos aproximamos de um cenário de mais excelência na pesquisa: robusto tanto cientificamente como moralmente. O caminho para a descoberta científica não precisa ser pavimentado com danos e sofrimento. Pelo contrário, com essas alternativas promissoras, podemos continuar nossa busca pelo conhecimento enquanto defendemos nossa responsabilidade pelo bem-estar social.