As sequelas deixadas pelos circos

Diferentes povos têm em sua história práticas que podem ser consideradas circenses, como é o caso dos egípcios, gregos e chineses. Entretanto, a concepção de circo como conhecemos surgiu no Império Romano, cristãos e leões eram colocados em uma arena para uma luta mortal onde somente um sairia vivo. Entre as atrações havia corridas de carruagem, gladiadores e exposição de animais selvagens. O filme Gladiador (2000) expõe em algumas de suas cenas como eram esses embates e a luta pela vida de humanos e animais. Se atualmente é inconcebível pensar em colocar pessoas para se digladiarem até a morte com animais em uma arena, porque ainda aceitamos a exploração de animais para entretenimento humano, como é o caso das touradas, rodeios e vaquejadas?

Os circos com animais no Brasil utilizavam espécies exóticas da nossa fauna, como leões, tigres, elefantes e ursos que eram explorados para realizar comportamentos totalmente antinaturais e absurdos, como atravessar um arco de fogo, manter animais quadrúpedes se locomovendo como bípedes ou um elefante que pesa toneladas apoiado em cima de um banco. Tudo isso para entretenimento de um público alheio ao sofrimento animal  que financiava com seus ingressos essa crueldade.

O sofrimento dos animais começava muito cedo, ainda precocemente eram retirados do seu habitat natural e separados de suas mães. Nos circos sofriam de privação alimentar ou recebiam alimentos inadequados à espécie. Os treinamentos eram intensamente violentos, com agressões físicas recorrentes, como pauladas, estocados por objetos pontudos, choques elétricos.

Estes animais também eram mantidos em jaulas extremamente pequenas ou acorrentados. Além de toda essa violência, eram mutilados -tinham suas garras e dentes removidos.

Os traumas e danos à saúde física e mental destes animais são permanentes. Muitos desses, mesmo após anos de libertação do circo ainda sofrem de medo intenso e praticam a automutilação, outros tem danos neurológicos permanentes em decorrência das agressões.   

Apesar da nossa Constituição Federal vedar a crueldade contra os animais e a lei de crimes ambientais prever sanção para quem comete abuso, maus-tratos, fere ou mutila animais, a proibição permanente dos circos ainda não é uma realidade. Até o momento podemos contar apenas com as iniciativas de estados e municípios. Por exemplo, 12 dos 26 estados do país possuem lei que proíbe espetáculos com animais, incluindo os circos.

O projeto de lei (PLS 397/2003), que inicialmente pretendia regulamentar o uso de animais em circos em âmbito federal foi proposto há 17 anos. A proposta sofreu alterações e passou a propor a proibição, entretanto sua tramitação não avançou. 

Com essas proibições e aumento das fiscalizações, alguns dos animais foram apreendidos e encaminhados a zoológicos  ou entregues voluntariamente à santuários. Apesar de libertados dos circos, alguns desses animais ainda sofrem com a exploração para entretenimento nos zoológicos. 

E porque os animais sofrem nos zoológicos? 

Sabemos que muitos animais apreendidos de situações abusivas e maus-tratos não têm condições de retornar à natureza. Os traumas físicos, emocionais e mentais são tão intensos que os condenam a viverem em uma prisão perpétua. Os animais explorados em circos são espécies exóticas, ou seja, não ocorrem naturalmente no nosso país e, portanto não podem ser soltos na natureza com risco de não se adaptarem e causarem desequilíbrios ambientais.

Mesmo estando em uma condição não natural, permanecem com necessidades ambientais e comportamentais muito complexas que os recintos dos zoológicos jamais serão capazes de prover. Por exemplo, elefantes andam por quilômetros na natureza e nos recintos desenvolvem inúmeros problemas de saúde em decorrência da falta desse recurso, o que compromete seu bem-estar físico e mental. Na natureza os animais gastam horas buscando alimentos e nos recintos muitas vezes os recebem todos de uma vez em uma bandeja. Claro que existem iniciativas de enriquecimento ambiental em alguns zoológicos, mas isso não é suficiente e é muito frequente que animais em cativeiro desenvolvam depressão, apatia por estarem em um ambiente tão pouco estimulante. 

Além de todos esses argumentos, somos contrários ao modelo atual dos zoológicos, baseados na visitação pública.

Expor animais para que crianças e suas famílias realizem passeios aos finais de semana é deseducativo, cruel e “coisifica” os animais. Há inúmeros métodos virtuais que mimetizam os animais em seus ambientes naturais e que poderiam ser utilizados para verdadeiramente educar jovens e crianças a respeitarem a natureza e seus moradores sem precisar expor animais a mais esse estresse.

Todos os animais têm o direito a uma vida digna sem sofrimento. Não financie a crueldade animal.


Texto: Haiuly Viana

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