Animais são protagonistas da própria história e não figurantes de filmes e séries

As produções cinematográficas, assim como novelas e séries tem um grande poder de influenciar os padrões de consumo dos telespectadores. A presença de animais nas produções, em situações ficcionais e repletas de efeitos audiovisuais, pode estimular o interesse pela aquisição de indivíduos daquelas espécies e distanciar ainda mais as pessoas das necessidades de indivíduos. Muitos animais são “famosos” por participação em séries e filmes, como o golfinho “Flipper”, a cadela “Lassie” e o labrador “Marley”.

O filme “Orca – A Baleia Assassina” de 1977, estabeleceu esse adjetivo impactante a esta espécie que não é considerada perigosa em condições de vida livre e que se mantém no imaginário popular até hoje. Mesmo as animações podem impactar negativamente a vida dos animais. O filme  “Procurando Nemo” aumentou em até 40% a venda  de peixes-palhaço, que costumam ser retirados diretamente do mar . A espécie é a mesma dos personagens Nemo e seu pai Marlin. O mesmo aconteceu com a espécie cirurgião-pateta (Dory) do filme “Procurando a Dory”; Esse movimento contraria a própria mensagem dos filmes: que é a conservação dos animais em seu habitat natural. Em  “Madagascar”, animais selvagens extremamente carismáticos, falantes vivem felizes morando em um zoológico. A mistura de espécies e essa aparente “felicidade” não são compatíveis com a realidade dos animais reais que são mantidos em cativeiro. Estas situações artificiais podem deseducar o público infantil que passa a cobiçar estes animais como objetos de consumo.

No caso de animais explorados em cenas de filmes e séries, há elevado risco de lesões, acidentes e morte. Também não são raros os relatos de maus-tratos por expor animais a situações antinaturais, muito estressantes, de abusos físicos e psicológicos. Recentemente, um cavalo morreu no set de gravações da segunda temporada da série “O Senhor dos Anéis: Animais de poder”. Segundo noticiado, o animal teve uma parada cardíaca enquanto se exercitava antes da gravação de uma cena em que outros 100 cavalos também seriam utilizados. No filme “As aventuras de Pi”, um dos personagens contracenava com um tigre de bengala. Na maior parte do filme, o animal  era computação gráfica. Entretanto, um tigre de bengala real foi utilizado para gravações e quase se afogou. Há outros filmes famosos que  causaram maus-tratos a animais durante as gravações, como é o caso de Hobbit, Piratas do Caribe, entre outros.

Assim como séries e filmes avançam para  serem mais inclusivas e respeitosas com grupos humanos, o mesmo precisa acontecer em relação aos animais. Reflexões éticas sobre a relação das pessoas e animais são necessárias para que os animais sejam considerados como sujeitos de direitos e retratados nas produções como possuidores de interesses e não apenas como objetos decorativos nos cenários. 

E a participação de animais reais é um ponto crítico que também precisa mudar. Roteiristas e produtores precisam repensar as produções e interromper a exploração de animais reais nas gravações. Há inúmeros efeitos visuais, tecnologia e outros meios que podem garantir os resultados cinematográficos desejados sem causar sofrimento a seres que não tiveram poder de escolher participar das produções. 

Por Haiuly Viana, Gerente Técnica do Fórum Animal

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