Lucrando com a crueldade: pesquisa aponta que que criadores de conteúdos digitais lucram com abuso de animais nas redes sociais

Vídeos aparentemente engraçados e “fofos” de animais, assim como perfis de animais (gerenciados por humanos) ganharam as redes sociais e fazem muito sucesso. 

Entretanto, os usuários mais atentos conseguem perceber que algumas condutas são problemáticas. Por exemplo, interagir com animais silvestres, colocá-los para exercer atividades antinaturais e humilhantes, como dançar, lavar louça e se maquiar – tudo para ganhar likes e engajamento. 

Estas práticas e outros muitos exemplos expõem os animais a diferentes níveis de estresse, riscos desnecessários, causando sofrimento e incorrendo em crime de maus-tratos. Há também riscos para a segurança dos humanos que inadvertidamente interagem com estes animais. 

Pesquisa
Os autores Antônio Carvalho, Igor Oliveira de Morais e Thamyrys Souza publicaram um artigo na Revista Biological Conservation (Volume 287, November 2023, 110321) intitulado “Lucrando com a crueldade: os criadores de conteúdo digital abusam de animais em todo o mundo para obter lucro”. O estudo trata sobre o interesse crescente de criadores de conteúdo digital de lucrarem com o abuso de animais e o fracasso das plataformas em remover estes conteúdos.

A pesquisa analisou 411 vídeos, que totalizam 50 horas de conteúdo, todos contendo abuso animal nas redes sociais. Estas mídias renderam um lucro de cerca de US$1,14 milhões a 79 canais diferentes. Os conteúdos foram divididos em duas grandes categorias:  sofrimento visível e sofrimento oculto.

Como exemplo de sofrimento visível temos os experimentos de caça-pesca, esmagamento de animais, abate cruel, brigas de animais, cozinhar e comer animais vivos e resgates encenados. Como exemplos de sofrimento oculto estão: as selfies e a exploração da vida selvagem como animais de estimação.

A maioria dos canais não segue as políticas do YouTube e, portanto, não deveriam ser tolerados pela plataforma. 

Animal selvagem não é de estimação
Segundo a pesquisa, o gênero que mais ganha visibilidade é quando os animais silvestres são tratados como “pets”, com lucro de cerca de US$ 730 mil. 

Apesar de plataformas como o YouTube afirmarem ter uma política clara de remoção de conteúdo sensível relacionado à crueldade contra animais, as análises dos pesquisadores demonstram o oposto: que o processo de revisão-padrão anunciado pela plataforma não foi capaz de combater a exploração e os crimes contra animais para entretenimento online. Somados, os vídeos com sofrimento visível tiveram quase 360 milhões de visualizações e algumas dessas produções estão disponíveis desde o ano de 2006.

Os autores da pesquisa reforçam que as pessoas, principalmente os influenciadores digitais, são responsáveis pelos resultados da pesquisa.

Nós do Fórum Animal reforçamos a importância do desenvolvimento de ferramentas efetivas para impedir que vídeos com crueldade animal permaneçam nas plataformas, gerando lucro e estimulando a reprodução destas práticas, em especial por crianças e jovens.

Autora: Haiuly Viana, gerente técnica do Fórum Animal

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