Dia do Pantanal: lamento por uma década de perdas na fauna

Dia 12 de novembro é considerado o dia do Pantanal, um bioma com enorme biodiversidade de fauna e flora. O Pantanal tem características únicas o suficiente para que a UNESCO o identifique como Reserva da Biosfera. 

Este bioma é a maior planície alagável tropical do mundo, abrangendo territórios do Brasil, Bolívia e Paraguai. O Brasil detém cerca de 60% do território do Pantanal. A data foi escolhida para homenagear o Pantanal pois, neste mesmo dia, mas em 2005, faleceu Francisco Anselmo de Barros, um expoente na luta pela preservação do Pantanal. 

Francisco morreu por atear fogo no próprio corpo em um protesto contra a instalação de usinas de açúcar e álcool na região do Pantanal. Portanto, esse é um dia que simboliza a memória da luta pela preservação ambiental que, mais do que nunca, se faz necessária.

No Dia do Pantanal, propomos uma reflexão sobre como temos tratado esse bioma nos últimos 10 anos e as mudanças drásticas que ocorreram na sua fauna nesse período. Neste curto período de tempo é possível perceber o quanto somos capazes de degradar profundamente ambientes naturais, além de acelerar e criar ameaças à fauna silvestre. 

Algumas conclusões: 

1. Redução das Populações de Onças-Pintadas: As onças-pintadas, símbolo do Pantanal, estão em declínio devido à caça ilegal e à perda de habitat. Nos últimos 10 anos, suas populações diminuíram significativamente, ameaçando a viabilidade da presença desse animal na região e em outras partes do mundo.

2. Desaparecimento da Ariranha: A ariranha, um mamífero aquático carismático, também sofreu danos complexos nos últimos 10 anos. A degradação dos rios e a poluição comprometeram seu habitat e sua sobrevivência, de modo que este animal está atualmente classificado como em perigo de extinção na natureza

3. Ameaças às Araras: O Pantanal abriga diversas espécies de araras, incluindo a arara-azul-grande. A captura ilegal para o mercado de animais de estimação e a perda de áreas de nidificação impactaram negativamente essas aves majestosas.

4. Declínio das Antas: As antas, um dos maiores mamíferos terrestres da América do Sul, também enfrentam desafios. O desmatamento e a fragmentação de seus habitats nos últimos anos afetaram negativamente suas populações.

5. Impactos nas Tartarugas Aquáticas: As tartarugas de água doce do Pantanal, como a tartaruga-da-amazônia e a tartaruga-de-podocnemis, têm sofrido com a pesca predatória e a degradação de seus locais de desova.

6. Ameaças aos Jacarés: Os jacarés são comuns no Pantanal, mas enfrentam ameaças decorrentes da caça ilegal e da poluição das águas.

7. Desafios para as Aves Migratórias: O Pantanal é um importante ponto de parada para aves migratórias, e as mudanças climáticas e a degradação dos habitats de descanso e alimentação representam riscos para essas espécies.

A pecuária e a agricultura têm desempenhado um papel significativo nessas ameaças ao Pantanal. A expansão dessas atividades resultou na destruição de áreas naturais por meio do desmatamento e da conversão de terras para pastagens e plantações. A contaminação dos rios com produtos químicos agrícolas, além de resíduos de criação de gado, prejudicou os ecossistemas aquáticos nos últimos anos, afetando animais como peixes e tartarugas. Além disso, o uso extensivo da terra tem fragmentado os habitats naturais, tornando mais difícil para os animais encontrarem recursos essenciais, como alimentos e locais de reprodução.

O Pantanal atravessou e tem atravessado duas grandes queimadas com menos de 3 anos de intervalo. Tivemos um alerta sobre isso em 2020, quando grande parte do Pantanal pegou fogo e centenas de milhares de animais foram dizimados. Agora, assistimos novamente a propagação de um incêndio que já dura mais de um mês e destruiu mais de 23 mil hectares do Parque Estadual Encontro das Águas, em Mato Grosso. As queimadas no Pantanal ameaçam cada vez mais a biodiversidade local e causam impacto severo na vida dos animais silvestres que dependem desse ambiente único. Muitos não conseguem escapar a tempo e morrem queimados ou sufocados pela fumaça. 

Diante dessas ameaças, é fundamental agir para preservar a riqueza da fauna do Pantanal. Medidas como a implementação de reservas naturais, o combate à caça ilegal, a restauração de áreas degradadas e o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis são essenciais para reverter essa tendência de perdas.

Neste Dia do Pantanal, devemos nos lembrar de que a preservação dessa região não é apenas uma responsabilidade local, mas um compromisso global. A fauna do Pantanal é parte integrante da riqueza da biodiversidade da Terra, e é nosso dever assegurar que as gerações futuras de todos os organismos que compartilham o planeta conosco  possam viver em um ambiente preservado e ecologicamente funcional. A conscientização e a ação são cruciais para proteger não apenas os animais do Pantanal e seu papel vital na conservação da biodiversidade global.

Autores:
Thayara Nadal, médica veterinária e assessora do projeto Vida Silvestre, Vida livre do Fórum Animal

Luiz Rezende, biólogo e gerente do projeto Vida Silvestre, Vida Livre do Fórum Animal

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