A realidade da vida em cativeiro

A liberdade é um conceito que constantemente é debatido com o objetivo de experienciar melhor a vida, expressando nossas necessidades com autonomia para buscar o que nos faz bem. O direito de ir e vir é fundamental nesse sentido, ao ponto de considerarmos a restrição desse direito uma punição. Para os animais não humanos, o direito de ir e vir não é diferente. Viver com restrição de liberdade gera sofrimento físico, mental e emocional, que pode durar a vida toda. Essa é a realidade de muito animais que vivem em cativeiro, seja por intenção humana direta, quando esses animais são retirados da natureza para viver em gaiolas, ou indireta, quando os animais foram tão afetados por nossas ações que já não conseguem ser reintroduzidos na natureza ou já nascem em cativeiro.

Notícias recentes nos confrontam com a dura realidade que muitos animais enfrentam quando confinados. Um artigo publicado no The Royal Society mostrou que os animais nômades têm uma maior probabilidade de morrer na juventude, de se reproduzir menos e apresentar muito tempo de tédio quando são mantidos em cativeiro. Relatos de mortes prematuras em zoológicos e aquários, por exemplo, revelam um lado obscuro da relação humana com os animais. A privação de liberdade, espaço restrito e condições artificiais inevitáveis nesses locais contribuem para um ambiente propício a doenças físicas e mentais, além de mortalidade. 

O sofrimento psicológico que os animais enfrentam na vida em cativeiro não deve ser subestimado, por mais que não sejamos capazes de detectar a sua expressão pelos animais. Especialistas em comportamento animal têm documentado sinais de depressão, ansiedade e agressividade em animais em cativeiro. A monotonia de um ambiente limitado pode levar a uma queda dramática na qualidade de vida desses animais, que, muitas vezes, demonstram comportamentos atípicos e letárgicos. A World Animal Protection (WAP), ONG internacional de proteção animal, publicou um artigo sobre a restrição de liberdade em aves mantidas em cativeiros domiciliares e demonstrou que estes animais sofrerão para sempre porque não podem expressar os comportamentos naturais como viver em grupo, manter um parceiro e voar. 

Não podemos ignorar que o sofrimento animal existe em qualquer tipo de cativeiro, independentemente do contexto. Seja em zoológicos, aquários, fazendas industriais ou até mesmo em gaiolas em nossos lares, a privação da liberdade natural de um ser vivo resulta em angústia. Mesmo quando a reintrodução na natureza já não é mais possível , o preço pago pelos animais condenados a viver em cativeiro é alto demais. 

Enquanto avançamos como sociedade, precisamos repensar nossas interações com os animais. Devemos condenar e banir qualquer atitude de criar animais em gaiolas, bem como, estarmos sempre conscientes de nossa responsabilidade quando colaboramos com algum tipo de distúrbio ambiental que afete os animais e os condene e viver em cativeiro. É nosso dever ético buscar soluções que priorizem o bem-estar e a vida em liberdade para todos os  animais, sem distinção de espécies. Que a compaixão e o respeito por todas as formas de vida guie nossas escolhas, recordando-nos de que, em qualquer cativeiro, o sofrimento animal persiste.

Os artigos citados no texto podem ser consultados em: WAP e em The Royal Society.

Autora: Thayara Nadal, Médica Veterinária e Assessora no projeto Vida Silvestre, Vida Livre do Fórum Animal

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