Proibir a cruel pesca de arrasto não afeta comunidades caiçaras e ribeirinhas

Uma pergunta que aparece quando falamos sobre a proibição da pesca de arrasto: “mas como ficam as comunidades tradicionais, como os ribeirinhos e caiçaras, que muitas vezes são economicamente vulneráveis?”

Esclarecemos: a pesca de arrasto é praticada usando grandes embarcações motorizadas, que puxam redes que podem chegar a 100 metros de comprimento e 5 metros de altura, e custam altas somas, com valores que chegam a R$ 5 mil. 

Para esse tipo de pesca, existem também GPS e sonares, que monitoram grandes cardumes, e guinchos para erguer redes cheias e molhadas. O investimento é alto e inacessível para pescadores familiares, com pequenas embarcações, pequenos motores ou até mesmo sem motores.

Por isso, quando alguém argumenta que a proibição da pesca de arrasto afetará comunidades caiçaras e ribeirinhas, esta pessoa está equivocada. Há os que usam esse argumento sem intenção, por puro desconhecimento da realidade. 

A pesca artesanal é um tipo de pesca caracterizada pela mão de obra familiar, com embarcações pequenas, como canoas ou jangadas, ou ainda sem embarcações, como na captura de moluscos perto da costa. Sua área de atuação está nas proximidades da costa e nos rios e lagos. Normalmente, envolve equipamentos de baixo custo. A captura na pesca artesanal destina-se tanto à alimentação familiar quanto à comercialização em menor escala. Mas é uma atividade pesqueira de baixa tecnologia, muito diferente da pesca de arrasto. 

Embora o Fórum Animal não seja a favor de nenhuma exploração animal, nossa luta contra a pesca de arrasto não atinge essas comunidades vulneráveis, justamente porque elas não utilizam a pesca de arrasto. Comunidades tradicionais, inclusive, apoiam a proibição da pesca de arrasto. 

O exemplo mais claro é no Rio Grande do Sul, onde a pesca de arrasto foi proibida, após muito debate – e a comunidade caiçara foi grande apoiadora da proibição. Meses após a proibição, essas comunidades têm se desenvolvido por obterem mais peixes, ao invés de menos, exatamente por controlar a sobrepesca.

Entendemos que a pesca, mesmo artesanal, é uma atividade que pode e deve ser substituída por outras fontes de proteína não animal. No entanto, nosso trabalho SEMPRE começará pelas grandes indústrias exploradoras dos animais, nunca pelas comunidades vulneráveis. 

Por isso, somos claros: comunidades tradicionais em geral fazem pesca artesanal, não fazem pesca de arrasto, que é uma prática destruidora do meio ambiente e em escala industrial.

Autora: Giulia Simonato, médica veterinária que atua como assessora do ProDAA do Fórum Animal

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