Leilão de vaca mais cara do mundo deveria gerar reflexão sobre o valor dado à vida dos animais no Brasil, afirma diretor-executivo

Artigo de Taylison Santos, Diretor-Executivo do Fórum Animal

A notícia recente sobre a vaca avaliada em R$ 21 milhões, leiloada no interior de São Paulo, não deveria gerar orgulho ou admiração, mas sim incitar uma profunda reflexão sobre os valores que atribuímos à vida dos animais e os impactos prejudiciais da produção em massa de gado, como o Nelore, no Brasil. 

O animal consta no livro dos recordes, o Guinness Book, como a fêmea bovina mais cara do mundo. O Brasil, como o terceiro maior produtor de gado Nelore do mundo, com um rebanho de aproximadamente 48,5 milhões de cabeças, não pode ignorar a verdadeira significância da vida desses animais. Na indústria agropecuária, os bovinos são frequentemente tratados como meros objetos de lucro, submetidos a condições de vida deploráveis que ignoram completamente seu bem-estar e seus direitos animais.

Além disso, a criação de gado, especialmente o nelore, tem impactos ambientais extremamente prejudiciais. Estudos científicos têm demonstrado que a produção de carne bovina é uma das principais causas de desmatamento, emissões de gases de efeito estufa e esgotamento de recursos naturais, contribuindo significativamente para as mudanças climáticas e a degradação ambiental.

A produção de carne animal frequentemente é justificada pelo fato cultural e pelo mito de que é através do agronegócio que a população se alimenta. Mas sabe-se que esse sistema não é suficiente. Em 2022, mais de 70 milhões de pessoas estavam em estado de insegurança alimentar moderada no Brasil, enquanto somas exorbitantes são gastas em leilões de gado. Isso evidencia uma profunda contradição entre ostentação e a realidade de milhões de brasileiros que lutam diariamente para garantir sua subsistência.

Celebrar leilões milionários de gado é hipócrita e moralmente questionável, especialmente quando uma parcela significativa da população enfrenta carência alimentar. Tal atitude reflete a distorção de valores em nossa sociedade, onde o lucro muitas vezes prevalece sobre a compaixão e a justiça.

É imperativo repensar nossas práticas e atitudes em relação aos animais, buscando alternativas mais éticas e sustentáveis. Reconhecer e valorizar a vida animal pelo que ela é intrinsecamente, garantindo seu direito fundamental à vida e ao bem-estar, é essencial.

Os bois nelores, assim como outras raças de gado, têm potencial para uma vida longa, mas na indústria agropecuária são abatidos prematuramente, após menos de dois anos, em busca de lucros máximos. Essa prática cruel ignora suas necessidades básicas e direitos fundamentais como seres sencientes.

Valorizar a vida do boi nelore significa respeitar sua individualidade, capacidade de sentir prazer e dor, e sua existência como parte integrante do ecossistema. Devemos buscar formas mais éticas e sustentáveis de interação com os animais, reconhecendo e promovendo seu bem-estar. 

A tecnologia aliada à agricultura sustentável está trazendo formas inovadoras de produzir alimentos, que vão desde a fermentação, a produção de carne cultivada ou produtos à base de plantas. Formas essas que comprovadamente impactam menos o meio ambiente e a vida dos animais.

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